Esse trabalho salienta a necessidade de construção de coerência que propicie o diálogo entre as heranças modernizantes europeias e as heranças não modernas não eurodescendentes na América Latina. A partir do problema levantado pelas políticas ontológicas, pela chamada virada ontológica na Antropologia, pelo multinaturalismo pautado por elas e particularmente pelo que Marisol de la Cadena (Natureza incomum: histórias do antropo-cego (2018) e Seres-terra: Cosmopolíticas em mundos andinos (2024)) apresenta como antropo-cego, argumenta-se como a falta de uma metafísica (aqui, de inspiração witheheadiana, tomada como ‘coerência de e para um dado cosmo’) que garanta plena dignidade de direito existencial àquilo que, nas tradições modernas europeias, só poderia existir como crença ou representação e que, no entanto, existem como fatos de sociologia ameríndia (por exemplo, mas não limitado a, parentesco com entidades não humanas e metamorfoses), lança tais populações não modernas, não eurodescendentes, ou, ao menos, não puramente eurodescendentes, a uma condição subalternizada e até idiotizada, cerrando a possibilidade de diálogo entre as múltiplas heranças que compõe os mundos latino-americanos. Mostra-se ainda que tal coerência metafísica pode ser construída desde múltiplas entradas e através de múltiplos exames, desde que se conserve precisamente o multinaturalismo implicado no que nesse trabalho se chama de insurgências ontológicas latino-americanas como o critério de validação dessa mesma metafísica. Apresenta-se ainda um breve exame do pensamento de Étienne Souriau, especialmente dos Diferentes modos de existência (2021), à luz das insurgências ontológicas e do multinaturalismo por elas imposto, como exemplo e como ensaio de construção de uma tal metafísica.
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